MENSAGEM AOS NOVOS PAIS

 
"Assim termina meu hino às gotas de orvalho! Quis, porém, aproveitando a oportunidade, dar carona a algumas considerações sobre a família em comentário a um oportuno artigo publicado naqueles dias pela Revista “VEJA”. A essas considerações chamei de MENSGENS AOS NOVOS PAIS."
 

            A Revista “VEJA -25 ANOS Reflexões para o Futuro”  publica o artigo “ O Nó e o Ninho ” da historiadora francesa Michelle Perrot. É uma análise da Família através dos tempos, enfocando o contraste entre a família patriarcal do século passado e a família atual, tentando detectar o que será a família do século 21. Não posso deixar de citar alguns trechos que me tocaram profundamente:

            “Fala-se em decadência freqüentemente para estigmatizar mudanças com as quais não concordamos”.

            Não se trata de “decadência” e sim de transformação. Tudo se transforma. Já dizia Lavoisier.

            A estagnação deteriora. A transformação é vida. É aperfeiçoamento. “Quid quid est, perfectibile est “ nos ensina a filosofia. Tudo o que existe pode ser aperfeiçoado.

            A transformação que encontramos na família de hoje é aperfeiçoamento e não decadência.

            O “Bem” do “Todo” é conseqüente do “Bem” de cada uma das partes. A Família não se aperfeiçoa se cada um dos seus membros não se aperfeiçoar.

            A tomada de consciência de sua individualidade, de suas potencialidades, a escolha dos seus objetivos e dos meios de alcançá-los, a tomada de decisões diante de valores ambivalentes, isto tudo transforma o membro amorfo da família antiga em um ser consciente, responsável, livre e feliz. É a transformação, o aperfeiçoamento e não a deterioração.

            Posso deixar de concordar que meus filhos não pensem como eu, não ajam como eu, não trabalhem como eu, não sintam como eu ?

            No século passado os pais instruíam, educavam, formavam, ensinavam ofício, traçavam as metas, decidiam o futuro de cada filho.    Isto era bom ?  Talvez, para aquela época. Hoje, os meios de comunicação atropelam a educação, a informação, a formação de modo global. Nós, Pais, ficamos para trás .Inúteis ?  Não!

 Continuamos amparando, mostrando os descaminhos, afastando os perigos, vigiando, para que atinjam seus objetivos, cada qual pelo seu caminho, por vezes áspero, por vezes suave, porém consciente e livremente escolhido.
 

            Mais adiante, diz Michelle Perrot:      
 ”A obsolescência das técnicas e dos saberes aniquila as possibilidades de transmissão. Há ruptura  em todas as  formas de transmissão de “capital”, seja ele econômico , social, cultural ou simbólico. Virtualmente não se  transmite mais quase nada aos filhos: nem fortuna, nem profissão, nem crenças, nem saberes. Os Pais fazem triste figura diante dos novos meios de comunicação, como a informática, que seus filhos dominam de olhos vendados. A desigualdade dos saberes deixou de ser de cima para baixo.”

            À primeira vista, tal quadro pode ser decepcionante ou causador de grande frustração. Porém, se analisarmos com inteligência, franqueza e humildade, veremos que mais do que frustração, ele deve nos trazer orgulho e satisfação.

            Se plantamos uma flor, nos alegramos quando ela desabrocha.

            Se plantamos uma árvore frutífera, nos orgulhamos e nos enchemos de alegria quando seus frutos amadurecem.

            Nós plantamos, nós aguamos, nós protegemos, nós nos alegramos com cada folha nova que brotou.

            Nós cheiramos cada flor que se abriu.

            Nós saboreamos o fruto que sazonou.

            Mas, o principal, ela fez sozinha : esticou suas raízes para a terra, sugou seu alimento, cresceu, floriu, frutificou. Hoje, ela é muito maior do que nós, muito mais bela. Suas flores, seus frutos, sua sombra, muito mais do que nós, proporcionam prazer, alegria e alimento a todos que se aproximam.

            Que frustração ?  Ou que alegria ?

            Meus filhos me superaram. Não lhes ensinei grandes coisas. Não lhes deixei riquezas. Não lhes impus crenças ou normas sociais. Mas, não deixei que herdassem meus tabús.

            Ensinei-os a pensar. Mostrei-lhes os caminhos. Souberam tomar decisões.

            Plantamos, aguamos, protegemos. Recebemos resposta : Sombra, Flores, Frutos.

            Não há decadência. Há mudança.  Para melhor.!

 

Boracéia, 10-03-95
 


Assim terminam as “GOTAS DE ORVALHO”! Porém, não sepultados e nem desfeitas e, sim, entronizadas, solenemente, no mais lindo Altar da Natureza, transformadas em majestoso PEDESTAL para as “GOTAS DE LUZ” que aí vêm!

 

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